Se você for da turma que pensa que defender o Rogério é amar mais o ídolo do que o clube não recomendo seguir a leitura. Se você for da turma que pensa que criticar Rogério Ceni é uma espécie de sacrilégio, também recomendo não seguir com a leitura. Esse texto visa apenas expor alguns pontos que devem ser considerados pelo torcedor, afinal, o tom do dois lados está acima do que deveria. No meu modo de ver, a demissão do treinador era questão de tempo devido aos resultados negativos dentro de campo. O que me motiva escrever nesse momento envolve o "pós-demissão" de Ceni e a forma como a própria torcida são-paulina tratou do assunto. Rogério foi uma "aposta" da diretoria e era sabido por todos o alto risco da contratação. De certo modo, muitos trataram o assunto como apenas um trunfo de Leco para se reeleger e se essa era a intenção, o objetivo acabou sendo atingido.
NÃO DEU CERTO E PONTO
O São Paulo se encontra na zona do rebaixamento no campeonato brasileiro, o que deixa claro que até então o trabalho do treinador Ceni não rendeu os frutos esperados. Soma-se a isso as eliminações no Campeonato Paulista, Copa Sul-americana, Copa do Brasil e essa combinação ganhará cores ainda mais fortes. Ceni começou seu trabalho na Florida Cup, torneio amistoso de preparação para temporada que foi vencido pelo Tricolor e ao longo do estadual foi tentando dar uma nova cara para equipe. O time começou como uma máquina de fazer gols, mas também os sofria em quantidade indigesta para os críticos. Ceni buscou encontrar o equilíbrio entre ataque e defesa e acabou perdendo a qualidade ofensiva que era ponto forte do elenco. O treinador errou ao tentar "recuperar" algumas peças do plantel como Wesley, Denis, Bruno e Lucão causando a ira do torcedor que não tem mais paciência (e com razão) com esse nomes. Em alguns jogos, esses jogadores foram diretamente responsáveis por falhas individuais que decretaram derrotas. Ceni também errou ao demorar para encontrar um esquema de jogo definido, testou nomes e variações táticas sem focar em nenhuma de forma definitiva. Analisando esses fatores e pensando no modo brasileiro de gerenciar futebol era questão de tempo para a saída do treinador. A pergunta que sempre ficará é se o projeto precisaria de mais tempo para funcionar, ou se jamais seria produtivo com uma diretoria como a nossa. O que é assunto para o outro tópico.
LECO NÃO TEM CULPA?
O atual mandatário da presidência do Mais Querido veio a público se isentar que qualquer responsabilidade pelo fracasso. Leco falou como se vivesse alheio a situação em que o clube se encontra, como se o único responsável fosse Rogério Ceni. O presidente parece ter ignorado que mais uma vez a diretoria desmontou o elenco durante as competições, que vendeu jogadores sem a devida reposição de qualidade. Ainda agora, com o anuncio da chegada de Dorival Junior, se especula a saída de mais atletas que integram o time titular. O novo treinador já assume o comando da equipe sem a certeza de quais nomes terá para trabalhar e tentar recuperar o clube na tabela. Se ainda assim Leco não acha que está fazendo nada de errado, só faz aumentar a preocupação de que o caminho do clube seja semelhante a outros que passaram pela mesma situação. O presidente simplesmente fez uso de um ídolo para se reeleger e na primeira oportunidade o jogou aos leões. Divulgou na imprensa cláusulas contratuais como a multa de demissão com o único intuito de pressionar Ceni junto ao torcedor, causando questionamentos até sobre a relação de amor entre o Mais Querido e Rogério. O tratamento dado a Lugano no caso da renovação já foi indício de como essa diretoria trata os atletas. E se mesmo assim Leco está em paz com sua consciência, fica a certeza que essa diretoria nada mais é do que uma continuidade de tudo de ruim que foi cultivado no clube nos últimos anos.
A IMPRENSA FAZ A FESTA
Desde que assumiu o comando do São Paulo, Ceni foi questionado pela mídia esportiva e até com certa razão. Eu mesmo não fui favorável a contratação por temer o desfecho que acabamos vendo. O problema está na relação conflituosa que Rogério sempre teve ao longo da carreira de jogador com os jornalistas. A pecha de arrogante sempre acompanhou Rogério e ao assumir um cargo com mais responsabilidade, teve que encarar os desafetos comemorando cada insucesso da equipe. Suas coletivas eram sempre embates onde os repórteres queriam ouvir algo que ele teimou em não dizer. Queriam ouvir a confirmação do fracasso, queriam ver no vencedor dentro de campo o derrotado fora dele. Assim como era quando atleta, Ceni não abaixou a cabeça para imprensa, não fez o jogo de cena e eu não esperava menos dele afinal, a personalidade dele sempre foi essa. A inexperiência do "estagiário de técnico" no cargo de treinador era combustível para ataques constantes e chacotas e o desgaste foi se agravando no dia a dia, a cada treino fechado e a cada resposta contraditória o sangue dele era desejado. Ao ser demitido, uma parte da imprensa fez o famoso morde-assopra passando a criticar a diretoria são-paulina pela demissão. O outro lado fez a festa e aumentou o tom das críticas a pessoa e não ao treinador e isso trouxe a parte mais triste da história, a anuência do torcedor Tricolor.
A CULPA DO TORCEDOR
O mestre Nelson Rodrigues já dizia que "toda unanimidade é burra". Rogério Ceni é considerado um ídolo mas não unanimidade. Quando ainda atuava não era incomum ver torcedores do São Paulo criticando Ceni em momentos de falha. Concordo que ninguém está acima do clube mas a grande questão é como se faz a crítica. O nosso torcedor claramente continua comprando as ideias da mídia e propagando o desrespeito como nenhuma outra torcida faz. Rogério Ceni tem que ser respeitado como ídolo, como homem e até como treinador. Sua demissão movimentou o jornalismo como há muito não se via, sinal de que a figura do ex-goleiro ainda incomoda e machuca os rivais que não tem a muito tempo um expoente em que se espelhar. Chegamos ao ponto de ver a demissão de Ceni virar campanha de marketing com comentários positivos de são-paulinos.
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Site de empregos "brinca" com demissão de Ceni |
Cabe ao torcedor saber separar o que é critico do que é leviano, o que é respaldo e o que é aversão. Comprar a destruição de uma imagem tão ligada ao clube é destruir o que ainda não foi demolido pelas gestões desastrosas dos últimos anos. Conviver com o contraditório e saudável e aceito que muitos não vejam Rogério nem como um dos jogadores mais importantes da história do clube. O que não consigo aceitar, é ver manifestações de ódio, chacota e diminuição do próprio torcedor a quem sempre lutou pelo melhor para o clube. Como técnico Ceni não obteve sucesso o que não o isenta de culpa, mas não esqueçam que ao propagar a destruição da imagem de Rogério, estão destruindo a imagem de um São Paulo vencedor e que já há muito tempo não vemos.
Pro São Paulo FC Fiant Eximia
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